domingo, 24 de abril de 2011

24 de abril - Final da expedição 327. Snif...

Soubemos hoje pela manhã, que a próxima expedição chegaria ao meio dia. Correria para arrumar tudo, pois não a esperávamos tão cedo. Como orienta o protocolo, ainda preparamos umas comidinhas para os pesquisadores que chegarão mareados e cansados da viagem. Também limpamos a casa, fizemos uma limpa na geladeira, arrumamos as malas, ufa! Deu tempo de preparar tudo. Logo mais embarcaremos no Transmar III e seguiremos até Noronha. Que os bons ventos nos acompanhe.

Observação:
Não sei se vamos ter internet em Noronha, escrevo novamente assim que possível.
Coração apertado de ir embora.
Vou sentir saudades dos animaizinhos daqui, que nos fazem companhia o tempo todo. Desse marzão também!
:´(
Espero voltar algum dia...

sábado, 23 de abril de 2011

23 de abril - No more turtles e a volta por Fernando de Noronha! Yupiiii!

Atobá às margens plácidas do Atlântico Norte (Foto de Maíra)

Aiai... previsão de partirmos amanhã a noite. Já estamos organizando algumas coisas e o clima de nostalgia paira forte aqui. Apesar do mar não estar legal para mergulhos, e não termos alcançado nossa meta de amostrar 5 tartarugas, partir deixando para trás este lugar tão peculiar, tão especial traz um aperto ao coração. Consolo: a volta vai ser mais curta. Além da corrente estar a favor, vamos descer em Fernando de Noronha e passar dois dias lá!! Yupiii! Isso quer dizer que passaremos apenas dois dias no barco! Vantagem dupla, mais Noronha, menos barco!!! As praias e o forró do Cachorro que nos aguarde!

Hoje a hidroginástica estava nível 10, e passamos bem pouco tempo na água. Tudo estava cinza, o céu, o mar e a nossa sorte com as tartarugas. ainda demos uma volta com o barco, e nos despedimos dos nossos amigos golfinhos, que hoje nos mostraram um bebê golfinho, pequenino!!!

Na volta pra estação, encontramos a enseada revolta e com ondas. Na hora de sair do bote e subir as escadas do trapiche, um pequeno incidente. Uma onda entrou e o bote empurrou minha perna contra a escada. Tudo muito rápido, um hematoma (ão) a mais na perna (na canela dói!), gelo, gelo, gelo. Faz parte...


Matamos a tarde tomando sol, dormindo, organizando a casa para a próxima expedição. A noite está rolando ao som do violão do marinheiro Victor. Despedida em forma de boemia! O céu está muuuuito estrelado na escuridão daqui. Lindo demaaaais! Apesar dos apesares, eu queria ficar mais um pouquinhoooooo...rs. 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

22 de abril - Muitas ondas e nenhuma tartaruga


Hoje o cabeço estava cheio de ondas, o que é um pouco incômodo para fazer apnéias. Além do seu snorkel encher de água com frequencia, as ondas que quebram na nossa cabeça parece um "pedala Robinho". Mesmo assim ficamos na água por mais de uma hora, e só vimos tartarugas marcadas... é nos resta apenas um final de semana... será que conseguiremos mais duas tartaruguinhas??? A seguir cenas dos próximos capítulos.



quinta-feira, 21 de abril de 2011

21 de abril - Mais uma raia e a terceira turtle!

Hoje o dia foi super! Apesar do céu estar cinza e nubladão, e o vento estar constante, as águas do cabeço estavam calmas e quente. Este foi o primeiro mergulho que não senti nenhum frio. Só não estava perfeito porque a água estava muito turva, havia muuuuuiiiito plâncton, nem pareciam águas oceânicas, mas não vamos reclamar, já que ontem nem pudemos cair...
Como o mar estava sussa hoje, ficamos lá de boa esperando alguma tartaruga aparecer. Elas costumam ficar entocadas nas rochas lá em baixo, comendo ou descansando, e com a água turva é impossível encontrá-las, só quando elas saem para respirar é temos chance de capturá-la. E nessa espera de nada pra cá e pra lá em cima do cabeço, quem apareceu foi outra raia! Lindona, ela era menos tímida que a anterior, e se aproximava muito da gente. Desta vez, pude nadar sobre ela por um bom tempo, tendo a chance de observar bem de perto seu dorso, suas rêmoras, as marcas deixadas pela sucção... Lindo! Lindo! Lindo! E ela permanecia nadando calmamente sem se incomodar com nada. Abri meus braços, num impulso de imitá-la, e me dei conta que ela era bem maior que eles. Foi difícil de Maíra fotografá-la, porque ela queria se aproximar mais e mais. Arrisquei um mergulho por baixo dela, e pude ver seu ventre branco e as fendas branquiais de muito perto!  Esses momentos são muito emocionantes, não tem como descrever isso aqui... 



Depois da raia, voltamos a procura das tartarugas, e depois de mais de 1 hora mergulhando, foi que Maíra avistou uma. Foram aproximadamente 20 minutos acompanhando-a para encontrar o momento ideal para a captura, e eis que ela aparece nas mãos de Maíra. Ela era bem grande, quase uma adulta, com seus 75cm de casco e 44 quilos!! Colocá-la para dentro do bote deu um trabalhinho, ainda bem que Seu Antônio e Seu Aristides (dois dos nossos amigos pescadores) estava lá pra fazer força, porque com o balanço do mar e a altura do bote, não é fácil não. Mas deu tudo certo, e agora estamos na torcida por mais duas tartarugas apenas (reduzimos nossa meta, rsrs...).


Ah, ainda vimos um cadurme enorme de peixe voador que se aproximou, eu acho o máximo ficar dentro do cardume vendo peixes por todos os lados, que se afastam com o menor movimento que você faz. O peixe voador é utilizado como isca na pesca do atum. A noite os barcos navegam de luzes apagadas até determinado lugar, e acendem todas as luzes do barco de uma só vez (parecendo uma árvore de natal). Neste instante os voadores começam a sair da água, e "voam" em direção às luzes, caindo dentro do barco. Mas aqui no ASPSP, parece que os atuns aprenderam identificar o peixe iscado do peixe solto, porque apesar dos cardumes serem vistos com frequência, a pesca está bem fraca, para azar dos nossos amigos pescadores. Em 12 dias de estadia, eles pescaram menos de 300 quilos de pescado, entre atum, peixe prego, cação e cavala (sendo que já pescaram nessas águas mais de 15 toneladas/período). O mais antigo da embarcação disse não ter visto tão pouco peixe em 10 anos de pesca no arquipélago. Alguns dizem na quaresma a pesca cai mesmo, outros que só se pesca o que Deus quer. Penso na sobre explotação dos recursos pesqueiros e na meta do governo federal de aumentar o esforço de pesca ainda mais... medo. Penso que o mar não está pra peixe, e nem pra tartaruga.

Observações:

- Nossa previsão é de deixarmos o arquipélago na segunda feira (25) bem cedinho. Tá passando muito rápido, tem só mais 3 dias!!!!
- O tubarão baleia ainda não apareceu

quarta-feira, 20 de abril de 2011

20 de abril - O Projeto Tartarugas e um dia sem mergulho

Eu vim parar aqui no ASPSP a convite de minha amiga Maíra Proietti, para colaborar como auxiliar de campo do Projeto Tartarugas. Este projeto é o tema de seu doutorado, vinculado ao Tamar e à Fundação Universidade Federal do Rio Grande, lugar onde nos conhecemos.

O objetivo geral do Projeto é caracterizar geneticamente as tartarugas de pente (Eretmochelys imbricata), através da análise do DNA mitocondrial, em cinco áreas de alimentação: ASPSP (RN), Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (SC), Parque Nacional de Abrolhos (BA), Parrachos do Pirangí (RN) e Praia do Cassino (RS).

A amostragem das tartarugas é composta por diversas etapas:

  Visualização do animal

Observação e captura

Medição e pesagem

Coleta de amostra de tecido e de casco 

Anilhamento  e liberação do animal

Todas as coletas tem finalidade científica e tem autorização do ICM-bio. As coletas no ASPSP tem ainda autorização da SECIRM.

Observações:

-Hoje o mar estava realmente nervoso e não pudemos mergulhar em lugar nenhum.
-Passamos a manhã nas piscinas de maré e tomando sol.
-A tarde fizemos o censo das aves, e encontramos um atobá juvenil do pé vermelho, essa espécie é comum no Atol das Rocas e Noronha. Será que ele voou um bocado ou nasceu aqui???
-O vento está bem forte agora a noite. Parece quem vem outra chuva aí...
-A expedição que vem nos render sai hoje de Natal às 22h. Boa viagem pra eles!

Atobá do pé vermelho (Sula sula)

Censo das aves

19 de abril - Peculiaridades da casa

Êba! Agora que a internet foi estabelecida o post de ontem pode ser publicado!!! 

Hoje nada de tartarugas novas, nem um outro ser marinho emocionante. Apenas os mesmos de sempre... então vou aproveitar para postar algumas peculiaridades da estação científica, que é ao mesmo tempo, nossa casa nestes 15 dias de expedição.

Energia - Aqui no arquipélago existem 60 placas solares no telhado, que captam energia do sol e a armazena em baterias.  Para otimização desse sistema foram consideradas a orientação e a inclinação do telhado da casa. Existe ainda um gerador a diesel, mas que é usado apenas em caráter emergencial, haja vista que polui e faz muito barulho (que incomoda a nós e às aves). Com o intuito de economizar o máximo possível de energia, aqui na estação existe apenas os eletro eletrônicos essenciais, como: 1 geladeira, 2 freezers (um pra casa um pro laboratório), 1 notebook, 1 liquidificador, sistemas de radios UHF e VHF, internet e telefone, e as bombas de água. Tem ainda os nossos notebooks e câmeras, mas o sistema aguenta bem com tudo isso. Chuveiro elétrico nem pensar! Hehehehe. A primeira atividade do dia (~6h) é lavar as benditas placas para que elas operem 100%, pois os atobás que ficam pousados nela não se intimidam de utilizá-las como banheiro.




Construção - Para suportar eventuais abalos sísmicos, a casa é constituída por painéis de madeira, traspassados por barras de aço rosqueadas nas extremidades. Pisos, paredes e coberturas são constituídos  por tal sistema, e sua inter associação configura um sistema monobloco. A casa é elevada do chão aproximadamente 2m, para permitir a passagem da água nas marés cheias, e é ainda sustentada por suspensões de caminhão, para permitir plasticidade em caso de terremotos. Essas colunas ainda tem um dispositivo anti caranguejo (que eu já expliquei), impedindo que eles entrem na casa. Como vocês podem ver, cada coisinha aqui é cheia de detalhes, e tem um porque de existir.




Os plugs são mega vedados, para retardar a ação da maresia e umidade.



As tomadas possuem capa protetora, para que fiquem fechadas, e protegidas da maresia e umidade quando não estão em uso.



E vocês acham que aqui tem muita maresia? Este é o puxador da janela do banheiro, e o que vocês veem é sal incrustrado nele.



 Todos os armário são de treliça, para permitir a circulação do ar e minimizar efeitos da umidade.


E algumas janelas possuem placas de acrílico na parte de fora, porque ondas ou seu spray alcançam a casa de vez em quando. E acaba funcionando contra cacas de atobás rs.


Também existe um sisteminha de fio de nylon para impedir que as aves sentem no corrimão da varanda da casa, porque eles acabam fazendo caquinha dentro dos quartos. Mas esse sistema não é muito eficiente, porque as aves acabam dando um jeito de pousar ali, seja por cima, seja por baixo do fio.


É, este post ficou meio técnico, mas faz parte, né? Pra compensar aí vai uma imagem dos últimos momentos de sol aqui no arquipélago, o que ocorre por volta das 17:30.





segunda-feira, 18 de abril de 2011

18 de abril - Mais golfinhos e uma raia manta

Hoje acordei com uma conversa no rádio VHF, entre o Transmar III e outra embarcação, cujo responsável falava português com um super sotaque de gringo. Imaginei que seia algum veleiro se aventurando, mas quando olhei pela janela, ainda meio dormindo, para ver a cara do dia, não é que avisto um mega navio de cruzeiro da MSC? Caraca, ele era muuuito grande, carregava aproximadamente 3 mil pessoas! Podíamos ver muitas delas na parte mais alta do convés admirando o arquipélago. Eis uma situação que eu nunca tinha imaginado viver aqui... rs.
Mais tarde, seguindo a rotina de todos os dias, fomos para o cabeço, onde não permanecemos por mais de 20 minutos. A corrente tava muito forte, e não tinha como explorar o local em busca das tartarugas. Decidimos cair na enseada mesmo, mas antes pedi a Júnior, nosso motorista de bote de hoje, para darmos uma volta ao redor da ilha, só para descontrair um pouco.Logo no início do percurso fomos saudados pelos golfinhos novamente! Desta vez o grupo parecia maior, acho que havia mais de dez, caímos na água e pudemos mais uma vez observá-los de perto. É muito legal que às vezes eles nadam bem rápido em sua direção, e no último instante desviam de você. Eles são grandes, em torno de 2m, e são tão meigos que a vontade que dá é de abraçar cada um deles! (Momento Felícia). Depois voltamos para o bote e continuamos nosso "passeio", alguns golfinhos voltaram a nos acompanhar, enquanto outros davam saltos para fora da água. Indescritível!


Continuando nosso passeio, um dos pescadores avista uma manta! Bora para água de novo, bem rapidinho. Ainda bem que Maíra sempre está a postos com sua câmera! Lá estava ela, com duas rêmora de carona. Imponente e serena ao mesmo tempo, nadando calmamente bem na nossa frente. Passamos um bom tempo só observando... os golfinhos reapareceram e desapareceram nesse meio tempo. Rumamos para a enseada mais animadinhas, confiantes que existem muuuuuitas coisas nesse mar, e que essas muitas coisas devem incluir tartarugas de pente.





Na enseada só avistamos as tartarugas que marcamos nos últimos dias. Isso é um bom sinal, pois demosntra que as tartarugas não se traumatizam ao serem amostradas, já que elas voltam para os mesmos lugares e continuam fazendo as mesmas coisas que faziam antes. E nada de novas tartarugas aparecerem... quem deu as caras novamente foi uma senhora barracuda, gorda e grande, com sua cara de má. Incrível como ela fica completamente parada na água, sem se mexer e sem afundar, apenas observando os peixes a sua volta. Aquela cara dela dá até um medinho... me lembrou o Nemo, e também o ensopado com coentro hehehe...



A tarde descansamos e ficamos vendo as viuvinhas namorarem, é muito gracinha vê-las fazendo a corte, cheia de sinalizações e vocalizações. Para os amantes da natureza, este lugar é um paraíso. 



Observações:

Subir constantemente em um bote com seus 80cm de altura é uma ótima maneira de malhar bíceps e tríceps (e de ralar os dedos também).
Hoje a lua cheiona nasceu vermelha e bem linda no horizonte. Sentei e contemplei.
Vontade de um banho quente.

domingo, 17 de abril de 2011

17 de abril - Mergulho com o Peixe-lua e mais uma tartaruga!

Hoje mal acordamos e mais uma super chuva caiu, o que nos fez voltar pra cama por mais uma horinha... Logo os pescadores vieram nos buscar para irmos ao cabeço. O mar não estava lá essas coisas, e as correntes estavam puxando bastante. Eu e Maíra passamos a rede de plâncton manualmente, e quando paramos já estávamos quase dentro da enseada, porque fomos derivando com a corrente. Como o bote está sempre de plantão, isso não representa risco, e lá veio Seu Aristides (um dos pescadores motorista) nos resgatar para o cabeço novamente. Pegamos carona imersas, e foi muuuuito legal  ver o azul  passando como na janela de um carro. Passamos por correntes frias, geladas, e até quentinhas. É demais a heterogenidade do oceano. 
De repente, ouvimos gritos e mais gritos vindo do Transmar III, que estava próximo. Eles apontavam para longe, e gritavam. Sem saber do que se tratava, mas com a esperança de ser um tubarão baleia, subimos no bote rapidinho e rumamos para lá. Não era um tubarão baleia, mas era o peixe lua!!! Uhuuuuuuu!! Caí na água no mesmo momento que o avistei, e não conseguia acreditar no que via. O peixe lua parece uma moeda em pé, com duas nadadeiras grandes. Ele parece não ter nehuma hidrodinâmica, e mesmo assim nada rapidamente. Ele é lindão, prata-azulado e muuuuito engraçado! Pena que ele não passou muito tempo com a gente, mas tudo de bom termos nos encontrado!!! Como foi tudo muito rápido, e intenso, não conseguimos tirar fotos, mas neste link vocês podem ter uma idéia do que vimos hoje. 



Depois continuamos nossa busca por tartarugas no cabeço, mas não tivemos muita sorte. O jeito foi cair na enseada, que estava bem gelada! E eis que nos 47 do segundo tempo, Maíra grita, sinalizando mais uma captura! Yupiiiii! \o/. A número 2 também era picurrucha de 38cm. O pensamento positivo está funcionando! E achos que nossos anjos de guarda andam meio salgados... rs.



Voltando do mergulho, avistamos Johnny, um atobá de asa quebrada, que muito recentemente aprendeu a pescar nas poças de máres, já que ele não pode mais voar. Os pescadores tinham deixado umas iscas aqui, e resolvemos dar para para ele. No princípio era apenas Johnny, depois eram muitos! Muito figura esses atobás.


A tarde tomamos um mormacinho, já que não tinha sol, e depois fomos fazer o censo das aves novamente. Desta vez sem bicadas de atobás! Ainda pudemos contemplar o por do sol cor de rosa, enquanto a lua cheia subia. Perfeito!



sábado, 16 de abril de 2011

16 de abril - Chuva, atividades sísmicas e uma tartaruga (Aleluia!)

Este post começa narrando os fatos da madrugada, quando uma segunda super pancada de chuva atingiu o arquipélago. Choveu muuuuuito forte, mas como uma chuva de verão, sem raios nem trovões. Eu que já estava dormindo, meio que acordei com alguns barulhos das pessoas fechando a janela e conversando, mas como me contaram, do mesmo jeito que eu abri os olhos pra ver o que estava acontecendo, eu fechei novamente e continuei dormindo (consciência tranquila e anjo da guarda de plantão dá nisso...). Hoje pela manhã, quando acordei (antes de todo mundo) percebi que o chão do quarto, da cozinha e da sala estavam completamente encharcados. Algumas roupas e meu protetor solar estavam no chão. Estranho... Logo o pessoal se levantou e fiquei sabendo da mega chuva que tinha caído, e como nós deixamos a casa toda aberta dia e noite, a chuva entrou por todos os lados até alguém acordar e fechar as janelas. Os pescadores disseram que próximo de virar a lua cheia é assim mesmo. Mas a chuva não explicava minhas coisas no chão, e foi então que um dos colegas de expedição contou que sentiu um tremor antes da chuva cair, que havia caído um copo na cozinha e essas coisas no quarto. As atividades sísmicas aqui são constantes, já que estamos bem em cima de uma falha que está "abrindo" o oceano atlântico. Os registros mostram que existem movimentos o tempo todo, mas são tão sutis que a maioria é imperceptível, e realmente, até agora eu não senti nadica de nada.


Passado esta emoção do início de dia, fomos mergulhar esperançosas, já que o vento mudara de direção. Apesar do dia cinza e carrancudo, a água já estava melhor e logo de cara avistamos uma turtle bem grandinha, ~1m de casco, que também deu um olé na Maíra e sumiu! Nas águas do ASPSP, os animais são muito ariscos, pois não estão acostumados com a presença de humanos, isso dificulta um pouco mais as capturas. Mas como somos brasileiros e não desistimos nunca, permanecemos na procura. De repente Maíra me entrega às pressas sua câmera e nada atrás de alguma coisa. Adivinhem, outra turtle!  Pequenina desta vez, e sem saber dar olés, senti um grande alívio quando a vi nas mãos dela. Eis a primeira! Agora só faltam 5 em 7 dias. Pensamento positivo! Pensamento positivo! Depois dos procedimentos de amostragem (detalhes em breve), me dei conta que estava bem mareada. Focar os olhos numa atividade manual, quando se está chacolejando num bote, é ótimo para marear. (Que m...!). Mas tudo bem, a gente supera essa também. 
Além da tartaruga amostrada, o que me valeu o dia foi ver a expressão de surpresa e espanto de Pepe, o pescador que dirigia o bote, ao descobrir a vida planctônica! Depois de passarmos a rede de plâncton, passamos a amostra para um pote, e mostramos aos pescadores aquele monte de pontinhos coloridos se mexendo desenfreadamente. "Tudo isso aí ta vivo mesmo?" "E o mar parece que está limpo aqui!". Gente, ver aquele olhar de descoberta, de fascinação pelo novo, é uma das coisas mais bonitas que existem. Sou muito grata por esse momento. 



À tarde o mar piorou e ficamos em casa, fazendo uma faxininha pra secá-la, rs. Também decidimos fazer um pavê para os pescadores, já que que aos domingos eles fazem um churrasquinho pra descontrair. E como esses pescadores são nossos guardiões dia e noite, nossos informantes meteorológicos, nossos motoristas e nossos companheiros de expedição, eles merecem!

Observações:
Hoje vimos xaréus imeeensos. 
Aqui existem muitas aves com a asa quebrada. Dá muito dó vê-las assim e não poder fazer nada :S
Eu e Maíra não vamos no churrasco, porque vai ser no barco. Eca 3 vezes: carne, diesel e balanço do mar.
Acho que hoje não chove.
Ainda bem que nos exercitamos bastante aqui, porque o cuscuz nordestino e a tapioca estão muito presentes nas refeições! Nhammy!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

15 de Abril - Megulho com os golfinhos

Hoje as correntes se acalmaram um pouco e os pescadores vieram nos buscar logo cedo para sairmos em busca das tartarugas laaaaá fora da enseada. Chegando no ponto escolhido, um cabeço com uns 15m de profundidade, logo vimos uma tartaruguinha passeando pelo fundo. Mas é claro que ela quis se esconder lá em baixo... continuamos nossa busca.
Lá fora é muito louco sentir as correntes. Tá tudo calmo, temperatura boa, visibilidade razoável. De repente surge uma corrente muuuuito fria, que gela até a alma da gente, começa a te puxar e turva a água. Tu bate, bate, bate as pernas e não sai do lugar! Sinistro!! Às vezes essas correntes ocorrem no fundo, e aí vemos os peixes sendo chacolejados, ou nadando sem se mover. Dá uma canseira na gente (hidroginástica!). Vimos outra tartaruga, que também desapareceu, desta vez nas profundezas do azul. O que vimos em quantidade, foram uns gelatinosos bem legais!




Estávamos um tanto frustada (na verdade Maíra estava beeeem frustrada) rumando para um outro pico que os pecadores haviam avistado tartarugas mais cedo, e eis que cruzamos com um bando de golfinhos!!! É claro que nos equipamos em segundos, enquanto o bote deu uma arrancada, atraindo muitos deles ao redor. Caimos na água mega rápido, e lá no azul, nos deliciamos entre o bando, que nadava de maneira graciosa e ágil, fazendo aquele barulhinho peculiar, que se parece com um assobio. Tão tão tão lindo, tão mágico, tão único. Acho que Douglas Addams estava certo. Como se a emoção do momento não fosse sufiente, avistamos logo abaixo da gente, um cardume enorme de atum! Acho que era atrás deles que os golfinhos estavam... rs.
Uma das teorias que explicam o comportamento dos golfinhos acompanharem o barco, afirma que são os machos mais velhos que sobem a superfície, para distrair o que quer que seja que esteja passando, enquanto as fêmeas e os filhotes permanecem no fundo e seguem outra direção.



Apesar de termos acordamos as 5 manhã, os atobás solteiros já tinham saído pra pescar, e o censo não rolou. Então, deixamos pra tarde o censo dos atobás e das viuvinhas, contar seus ovos e seus filhotes. Apesar das botas e dos rodinhos, um atobá malvado me perseguiu e me bicou a perna quando eu estava checando o ninho de uma viuvinha. Que mala! Mas tudo bem, a gente supera... o visual lá de cima, com a maré cheiona compensou!

Viuvinha (Anous Minutus)

Bom, e entre uma coisa e outra, sempre rola um tempinho pra pegar um sol, afinal, férias são férias, né?


quinta-feira, 14 de abril de 2011

14 de abril - Os atobás

Pra não ser repetitiva, só vou dizer que as condições de mar continuam a mesma, o que resultou num único mergulho pela manhã, que foi saudado por uma forte chuva e claro que sem nenhuma tartaruga. Bom, ainda temos 10 dias de arquipélago, e a meta de amostrar pelo menos 6 tartarugas. Vamos pensar positivo.

A tarde foi dedicada aos atobás. A gente passa muito tempo observando esses bichinhos, já que eles são  muitos e estão por toda parte. E eles são muuuuitos engraçados! Os atobás casados, quando estão no ninho, ficam pegando tudo o que está ao redor (penas, pedrinhas, carapaça de aratu) para melhorar o ninho! O detalhe é que os ovos ficam praticamente sobre a pedram e tudo o que eles coletam fica na volta, só pra constar. As vezes, um atobá rouba a pena do ninho de outro atobá, e aí é uma gritaria, briga de bicadas até alguém desistir. Tentei fazer um vídeo, mas eles estavam muito comportados quando fui até o ninhal. Vou continuar tentando! Outro coisa típica é quando um atobá pousa em território alheio, e leva o maior pau, aí ele dá um pulinho pro lado e cai em outro território alheio, e apanha de novo, e depois de novo e de novo até chegar no lugar certo. Isso me lembra os pelicanos de desenho animado, que pousam de maneira desengonçada e se machucam todo. Rs Também gostamos de ve-los namorando, acariciando um ao outro com extrema delicadeza... lindos!


O macho possui o redor dos olhos azuis, enquanto que o da fêmea é amarelo. O bico e os pés do macho também são mais azulados que os da fêmea. Amanhã começaremos a fazer o censo das aves aqui, pra colaborar com um outro projeto. Isso significa acordar antes das 5 da manhã para pegar toda a famíla em casa, já que eles revezam a pescaria para alimentar o filhote e cuidar do ninho. Acho que vai ser tranquilo, já que da outra vez que vim pra cá, fazer o censo era a minha função. Remeber!!!!
Os filhotes tabém são umas gracinhas, que até parecem um algodão doce!!


 Bebezinho
Algodão doce
Filhotão

quarta-feira, 13 de abril de 2011

13 de Abril - 3 caídas, zero tartarugas

 Eu e uma tartaruga verde na enseada

Hoje o mar melhorou um pouco, e lá fomos nós procurar as tartarugas de pente. A enseada ainda está longe de seus melhores dias, mas já ficamos felizes de cair na água. Apenas uma pequena tartaruga deu as caras, mas deu também um olé em todo mundo, e não se deixou amostrar. No final da manhã, os pescadores nos levaram para mergulhar em um "cabeço", que são picos fora da enseada, com algumas elevações rochosas submersas. Este pico em especial é conhecido como point das tartarugas de pente e verde, e um dos locais que pretendemos mergulhar com frequência, se as condições de mar permitirem.
Já na água, um pouco antes de chegar ao Cabeço, tudo o que se via era o azul das águas, cortado pelos raios de sol que se perdiam com a profundidade. O meu referencial de espaço também se perdiam no azul, e minha única referência então, passou a ser as nadadeiras de Seu Antônio (o único pescador mergulhador) se agitando na minha frente. Eis que alcançamos o Cabeço, e eu recupei minha noção de espaço! Mas infelizmente a água estava bem turva, gelada e com a corrente puxando bastante. Sem chances de enxergar tartarugas ali... snif!
No final do dia mais uma caidinha na enseada, que já não estava tão boa quanto de manhã, mas nenhuma tartaruguinha quis aparecer. O jeito foi observar seus frequentadores assíduos, principalmente as moréias pintadas, que são muitas por aqui. Basta fixar os olhos no fundo que logo se ve uma ou duas trocando de tocas, predando, e/ou "apanhando" das territorialistas donzelinhas. Também adoro observar os peixes trombetas, magrelos, que se camuflam com as algas.... Algumas barracudas carrancudas também se aproximaram, mas não perderam muito tempo com a gente. Melhor assim! Rs
Como as fotos de hoje não ficaram muito boas com a água turva, aí vão algumas que Maíra tirou na expedição de agosto passado.

Trombetinha

 Moréia Pintada

Ah, ontem os pescadores avistaram um peixe lua! Apesar de eu não te-lo visto (infelizmente), acho que ele merece uma atenção, porque é o maior peixe ósseo que existe e um dos mais estranhos também.

Foto do Google